domingo, 29 de junho de 2014

A TRADUÇÃO DE “ATÉ QUE ENFIM!”

 Júlia já havia ido naquele estande cinco vezes. Deixara recados e bilhetes com quantos se dispusessem a dar-lhe atenção.
         Pela manhã ao ter na rua da casa de sua mãe, a quem fora visitar a informação de que aquela pessoa estava na terrinha, encheu-se de certeza de que, daquela data não passava o reencontro que já abria um hiato de vinte anos de separação entre aqueles amigos de adolescência.
         Tudo parecia convergir para o encontro. A filha, acadêmica de artes, precisava ir ao Seminário Cultural da Amazônia, e quem teria que levá-la era Júlia, pois o pai estava cumprindo escala de serviço. Na agenda de compromissos nenhum impedimento, todo o tempo do mundo, portanto, era inevitável o tão esperado reencontro se concretizar, daquela data não passava. Mas Júlia já havia estado no estande de Rondônia cinco vezes e nada, o homem era escorregadio, solicitadíssimo. A certa altura, já sabia da amiga e também se pusera a enviar-lhe recados. Os participantes do seminário já até os conheciam e sabiam dos amigos e do então anunciado reencontro, mas o tão esperado momento não se cumpria.
         Exausta, Júlia decide ir para casa se refazer juntamente com a filha. Voltaria mais tarde de qualquer forma, pois, a filha precisava assistir por conta do trabalho universitário a uma apresentação de balé.
No caminho para casa recordava-se de momentos da adolescência vividos com aquele amigo em especial. A filha era capaz de identificá-lo de tanto que já ouvira falar das peripécias do Serjão, personagem constante nas recordações e narrativas de Júlia, quando se punha a lembrar de tempos passados. Serjão era figura simpática, muito bem humorado, contador de piadas, aquele amigo da turma que consegue estar sempre de bem com a vida, mesmo se metendo em enrascadas e levando junto até aqueles que delas (das enrascadas), queriam distância e se preservavam contra situações embaraçosas como era o caso de Júlia. Cheia de recatos, de atitudes por vezes cerimoniosas; e o verbo então? Esse, nem se fala! Mas tinha um amigo como Serjão, e querido. Bem, dizem que os opostos se atraem não é mesmo? E depois, ficava claro que Serjão tinha lá seu Fetiche.
Júlia se perguntava: como deveria estar o Serjão? Casado? Quantos filhos? E a esposa? Era legal com ele? Pois de uma coisa Júlia tinha certeza apesar dos tempos de distanciamento: o amigo não haveria de ter perdido aquele espírito prazenteiro e peculiar da adolescência. Serjão era sem dúvidas daquele tipo de gente que nunca envelhece um eterno jovem. Acreditava, porém, que havia mudado o comportamento no sentido dos tratamentos, por força da idade e dos cargos que agora provavelmente lhe competiam no lar, no trabalho. Ora, isso havia. Estava até participando de um evento da envergadura do Semanário Cultural da Amazônia.
De volta ao local do evento, Júlia decide entrar logo na enorme fila que se formou para ingressar no teatro, garantindo assim o lugar da filha. De longe, avista uma pessoa no início da fila, uma criatura alta, de costas para Júlia que, entretanto lhe parecia familiar; então entrega a bolsa nas mãos da filha, e de vagar vai dirigindo-se para aquela pessoa de quase dois metros de altura, larga como um armário de porta aberta (como se costuma dizer das pessoas grandes). Pé ante pé, Júlia caminha cautelosa, já com um meio sorriso no rosto e antes de abordar a criatura, esta, vira-se como pressentindo que estava sendo observada, e num gesto de felicidade quase infantil, abre os enormes braços, um imenso sorriso e caminha para um abraço saudoso e feliz composto por uma saudação vigorosa e definitivamente pertinente ao tão querido amigo Serjão que ao vê-la exclama feliz:

— Puta merda!!!!!! 

sexta-feira, 27 de junho de 2014

Mulheres

Mulheres:
De rostos cansados
Cheias de fomes
De alimentos
De amores
De condições.

Mulheres
E suas paixões

As vi nas feiras,
Nas filas,
Com as filhas,
Também mulheres
De amanhã.

APRESENTAÇÃO


 Muitas razões me levaram a abrir esse Blog. As histórias de família que conto pelos aniversário, batizados, casamentos, formaturas, enfim... a nossa vida social, nas quais ando é uma delas. Gosto de observar pessoas. É interessante ver como se desenrolam das situações. Meus amigos gostam de me ver contar, tanto que me relatam fatos pessoais e depois pedem que eu os narre como se meus fossem quando estamos nessas reuniões, assim, conto os contos pessoais e particulares [autorizados é claro]. Ainda, publicar minhas poesias e repentes, meus contos e crônicas, alguns artigos, enfim... compartilhar minhas escritas também.
Família é do que mais vai tratar e retratar esse Blog “Foi Mãe quem disse!”, e muito especialmente minha mãe Dona Lindinaura conhecida como Dona Linda.
 Explicando MAINHA
 Toda Mãe é um ser especial. A minha como a de todos vocês é mais é claro. Hoje em dia é moda falar em mãe, até fazer filme. Acontece que a minha já vem ditando a moda desde a década de 40, mas eu nunca pude revelar nada; por quê? Porque fui educada pela família das mulheres honestas e honradas, portanto, obediente. Hoje em dia aos 53 anos resolvi tomar um chá de coragem e escrever. Só Deus e eu sabemos o que vai me custar. Não. Não fiquei desobediente não? Que isso? Fiquei destemida. É diferente. Depois, mãe tá velha, quer dizer: idosa... já não tem forças pra me dar aqueles beliscões educativos, que misericórdia, doíam até os cabelos. Menino, tu já viu cabelo doer? Então? Pois mãe conseguia essa façanha. Só sei que mãe é divertida, malcriada, respondona. Pra tudo tem explicação. Esclarece qualquer assunto, tema, dilema, enigma, não tem mistério. E com sabedoria. O mais interessante é que a resposta é ligeira, mal o perguntador expõe sua dúvida o desvendamento da questão é anunciado. E mãe não ri! É tudo sério. Assim, quando se está em alguma dificuldade seja médica, financeira, amorosa, pendengas judiciais, vizinhisticas e outros, incluindo ainda os etc... E a coisa não desenrola; até que chega no ponto que toda a família junto não dá jeito é apelar pra mãe. Não tem erro nem discussão. De tal forma que se aparece algum individuo querendo contemporizar a questão duvidosa, querendo solucionar a pendenga, a altercação de outra maneira, para a resolução já arranjada, convicto afirma-se: ─ Foi mãe quem disse! – diante de tal exclamação quem haverá de contestar!?
A coisa é tão seria que isso já chegou aos netos. Alguns que moram temporariamente em outros estados e regiões do país por questões de formação profissional quando se encontram sem respostas para determinadas situações ou outras querelas ligam e a pergunta é:
 ─ O que voinha falou disso?...
 Mãe e um oráculo. O único problema é a sinceridade, a franqueza – palavras dela - eu chamo de outra coisa. A explicação dela por fim é inquestionável. Pode não ter a singeleza, a delicadeza de uma língua portuguesa bem posta como Edileide gosta e pratica regiamente, no entanto, mãe e incontestável, invencível, dai o Blog possuir esse título. E pra iniciar vou exemplificar essa FRANQUEZA com um episódio familiar recente.
 Em 2013 Ana Luísa de férias resolveu fazer um moicano no cabelo e passar 15 dias em Belém do Pará. Carlos quando viu ficou uma fera. Tentei contemporizar dizendo que ela é uma artista e coisa e tal, contudo não colou. Então liguei para Ana Júlia avisando o que lhes esperava em Belém e recomendei que ela preparasse a turma por lá pois nesses quesitos a família é tradicionalíssima.  
 Dias depois Ana Júlia que é uma “leide” verdadeiramente, muito dócil, serena, me liga contando o seguinte fato:
— Mainha, chamei vó, mostrei uma foto da “menina danada” [é como mamãe chama Ana  Luísa], e disse a ela que preparasse o vovô e tia Dededa pois sendo ela, [a vó], uma pessoa moderna, atual e que compreende a adolescência como poucos, ela saberia receber a nossa Luísa com aquela novidade. Agora, os demais precisariam da intervenção dela que é uma pessoa que acompanha as transformações do mundo. Ela ouviu, olhou, riu-se e perguntou:
— Como está seu pai com essa presepada da “menina danada”?
— Mal né vó! Ele não gostou, está muito chateado.

— Olha minha filha, - disse cheia de FRANQUEZA, - diga a ele para não ficar assim não, isso é feito um traque, fede, mas passa!

segunda-feira, 2 de junho de 2014

Poesia

ASSIM...
Anda assim o meu amor
Comprometido do ser
Ver, e não poder pegar,
Amar, e não poder ter!

                             Júlia Câmara
                            Poetisa paraense