Esse soneto,
de Gregório de Matos Guerra, é uma reflexão do que ele vivenciava no século
XVII na Bahia, e que infelizmente em pleno século XXI, tantas gerações AINDA
vivenciam no Brasil.
Carregado de mim ando no mundo,
E o grande peso embarga-me as passadas,
Que como ando por vias desusadas,
Faço crescer o peso, e vou-me ao fundo.
O remédio será seguir o imundo
Caminho, onde dos mais vejo as pisadas,
Que as bestas juntas andam mais ornadas,
Do que anda só o engenho mais fecundo.
Não é fácil viver entre os insanos,
Erra quem presumir que sabe tudo,
Se o atalho não soube dos seus danos.
O prudente varão há de ser mudo,
Que é melhor neste mundo, mar de enganos
Ser louco c’os demais, que só sisudo.