quinta-feira, 28 de agosto de 2014
quarta-feira, 27 de agosto de 2014
RUMO À PRESIDÊNCIA!
Crescemos
num Município do Pará cujo acesso era feito só através de barco, àquela estação
de nossa infância.
Acará
era praticamente uma aldeia naquele modelo dos tempos do Brasil colônia em que
a igreja católica era construída de modo a ter controle do povoado todo. Assim,
todo o resto do município crescia em torno da igreja. Localizado às margens do
rio que emprestava seu nome para o município, Acará ficava a mais de duzentos
quilômetros da capital paraense.
Nos
dias de então, não havia na cidadezinha grandes recursos quer fossem na área de
saúde, de educação ou de transporte.
Meus
pais, à época, eram funcionários do DER (Departamento de Estradas de Rodagem)
órgão do Estado. Papai era Residente que configurava um cargo de chefia e mamãe,
Enfermeira.
O
município tinha uma caçamba do DER, um caminhão da prefeitura e o Jippe da
Igreja que contava com um pároco de nacionalidade italiana muito trabalhador e
querido da população: Padre Alberto.
O
DER juntamente com a prefeitura municipal eram os únicos órgãos empregadores da cidade e mamãe, que era
funcionária do DER, acabava por atender o município inteiro nas questões de
saúde que surgiam e lá ocorria de tudo. Dessa forma, meus pais tornaram-se
parte das autoridades constituídas na cidade que eram o padre, o prefeito, o
delegado, seu Chico da DER (como os caboclos o chamavam) e dona Lindinaura, a
enfermeira. Por esse motivo era comum ver nossa casa sempre muito movimentada.
Dificilmente sentávamos à mesa sozinhos, principalmente aos domingos, quando
papai mandava ou ia pessoalmente à colônia buscar o caboclo que vinha à cidade
para trocar mercadoria, casar, batizar ou cuidar da saúde. Ao contrário da
dinâmica da cidade grande, domingo no município de Acará era dia de muito, muito
trabalho mesmo.
Nesse
ambiente crescemos aprendendo desde aí a considerar e acolher com muita
educação doméstica, principalmente, todo ser humano independente de sexo, credo
ou cor. Era a nossa realidade: atender à porta, servir água e localizar o papai
onde quer que ele estivesse no município.
Os
anos passaram. Viemos para a capital estudar.
Em
Belém constituímos família, vieram os filhos nossos, os netos do Chico da DER e
da enfermeira Lindinaura.
Era
comum visitar a cidade de Acará. No período dos estudos, fazíamos isso todo
final de semana.
O
município pouco mudava e, essa dinâmica de meus pais, parecia nunca ter fim.
Continuava aquela população, agora muito maior, recorrendo a eles para diversas
soluções.
Certa
feita, Inês, a segunda filha dos cinco rebentos do casal, foi passar um fim de
semana com a sua primogênita Juliana. A criatura contava uns cinco anos, cheia
de vida, linda que só ela, muito engraçada e atenta a tudo. Juliana, vez por
outra, se saía com cada uma e, por conta de suas conclusões, nos colocava em
situações embaraçosas.
Estava
a mana Inês descansando depois do almoço, se aninhando para aquela tradicional
sesta paraense, quando bateram à porta. Acará não tinha mendigo, nem ladrão e a
cadeia era praticamente um enfeite. Pois bem, Inês pede à Juliana que vá
atender a porta e ela, cheia de energia, fagueira, levanta-se e saltitante vai.
—
Escuta pequena, o seu Chico está?
—
Não senhor, o prefeito saiu!— informa Juliana com propriedade e segurança. A
mãe pula da cama vai ao encontro dela e explica:
—
Minha filha, o vovô não é o prefeito da cidade, entendeu?
—
Não!
—
Mas ele não é Juliana, tá bom?
—
Ah! Ele não é o prefeito?
—
Isso mesmo! O vovô não é o prefeito!
—
Tá bom! — e tornam à cama para merecido repouso. Quando já estão agasalhadas,
novamente batem à porta e Inês, mais uma vez requere auxílio da nossa menina e
Juliana faceira vai atender à porta.
—
Seu Chico está?
—
Não senhor, o Governador saiu!
LANCHE X PAI
Edgar
cursava o segundo ano do ensino fundamental na escola militar da Aeronáutica
“Tenente Rêgo Barros” localizada em Belém do Pará.
A escola era uma referência e por isso
também estudavam lá filhos de pessoas importantes do cenário político local
como, por exemplo, filhos do Governador do Estado e Prefeito do município de
Belém. Dessa forma, as classes sociais se misturavam; coisa que somente a
escola possibilita em termos de amizade e envolvimento de camada social.
Essas
crianças, filhos de autoridades, tinham muitos benefícios econômicos; já
naquela época portavam celulares, tinham computadores de última geração, carro com
ar condicionado e motorista, um material escolar recheado de objetos importados
e uma série de outras grandes e pequenas prerrogativas que fazia despertar nos
colegas menos abastados, interesses e desejos que seus assalariados pais não
podiam atender.
Para Edgar o que mais o atraía era o
fato desses meninos terem o poder da grana que lhes permitia lanchar na bela
lanchonete da escola quanto e quando quisessem, sem se preocupar com preço das
coisas. Isso era sedutor.
Determinado, Edgar agenda com seu pai
Carlos uma audiência para resolver essa questão alimentar. Explica ao ouvinte
atento seu anseio de comer na dita lanchonete da escola “hambúrguer”, “milk
sheik”, “banana split” e outras coisas mais. E, para tanto, ele gostaria que o
pai passasse a lhe dar semanalmente o dinheiro do lanche. Não queria mais levar
a merendeira. Carlos pondera tentando fazê-lo ver, inicialmente, o valor
nutricional de sua merenda. Contudo, o aluno está irredutível e insiste no seu
objetivo com emprenho. Então o pai lhe explica com que carinho e boa vontade a
mãe lhe prepara aquela merenda; que ele irá tirar dela esse prazer. Tudo em
vão. Edgar faz ver ao pai a sua questão pessoal, a sua necessidade de se
atender e se fazer feliz através da realização daquele desejo latente. Numa
última tentativa, Carlos esclarece que não poderia favorecê-lo em questões de
dinheiro para gastos na escola, pois as outras duas irmãs com razão reclamariam
os mesmos direitos e o orçamento não comportava essa despesa. Porém, o menino
explica ao pai que isso já não era problema dele. Naquele momento a condição
dele era de filho, questões financeiras cabiam ao pai resolver. Assim sendo,
Carlos pede-lhe uma semana para dar solução a questão.
Os dias pareciam se arrastar para Edgar
que, no entanto, mantinha-se aguardando sem pressionar o pai. E passado uma semana,
Carlos senta-se na garagem da casa com seu rebento e com voz de locutor anuncia:
— Arranjei uma solução para nossa
questão! Ela consiste no seguinte: Falarei com o pai de um desses seus colegas
que leva dinheiro para lanchar na escola e acordaremos uma troca. Ele, o outro
pai, ficará com você e eu com o filho dele. Você terá um novo lar, outro pai e
seu lanche; eu aqui terei um novo filho com quem poderei constituir uma nova
relação. Jogaremos peteca e bola, empinaremos papagaio, iremos ao clube nos
finais de semana e sempre que eu sair de bicicleta poderei levar meu “novo
filho” junto. Creio que para ele, o menino que virá lhe substituir, será muito
bom. Pra mim será, com certeza, um novo amigo, uma nova relação de amizade. Acho
que iremos nos dar muito bem. Será de fato uma grande experiência! Fez-se um
imenso silêncio. Passados alguns minutos, Carlos estimula:
— Então? O
que acha? Edgar olha para o pai com severidade, a testa franzida, os olhos
fixos nos do pai muito, muito amado. Mudo permanece. Um profundo silêncio toma
conta do ambiente onde a conversa acontece. Ficam os dois lá parados se olhando
sérios. Aquele pai de trinta e dois anos de idade e seu filho com sete anos de
existência. Quebrando o silêncio o pai insiste:
— Não tem pressa! Dou-lhe uma semana
para responder.
— Não preciso de uma semana. Eu fico
mesmo com o lanche da mamãe!
segunda-feira, 18 de agosto de 2014
1º PATUSCONTRO
A finalidade era de colaborar com os participantes no sentido de vencerem a inibição especialmente de falar em público, de se tocarem e participar de trabalho em equipe.
Esclarecendo a dinâmica |
Apresentando os participantes |
Iniciando a roda |
Abrindo a roda para todos |
Depois da dispersão a busca da mão direita |
É preciso encontrar a mão direita que entrelaçava a sua |
É imprescindível insistir |
Quando as mãos se encontram... |
... Estamos prontos para abrir a roda novamente. |
A roda precisa de uniformidade, somos nós que a fazemos. |
É a vida, uma dança, um balé. |
O ritmo nós ditamos. |
Ora mais lento, mais ligeiro. |
Com laços mais ajustados o importante é nos reencontramos especialmente com nosso eu. |
Outra etapa do trabalho. |
Agora intelectual. |
Construindo uma história saída das muitas cabeças de um mesmo grupo. |
Um participante dando seu depoimento. Todos o fizeram. |
Para finalizar vamos tentar construir a PIRÂMIDE. |
Trabalho que consiste em todos subirem numa única cadeira. |
Só vale o empenho de todo o grupo... |
... Se todos os participantes retirarem por completo... |
Coordenação:
Júlia Câmara
Socióloga
DRT/PA nº488
domingo, 17 de agosto de 2014
Edgar com as Negras(como ele costuma chamar as irmãs Ana Júlia e Ana Luísa) em Belém do Pará no Boteco das 11 |
COISAS DE EDGAR
Edgar, também conhecido como
Magal, sempre foi boa praça, muito bem humorado. Quando pequeno era complicado
chamar-lhe atenção. Tinha umas tiradas! Certa vez voltado do hospital da
Aeronáutica no Recife com ele, parei numa banca de revistas para olhar algumas
publicações que versavam sobre decoração. Ele imediatamente pediu-me:
─ Mulher, me dá uma
palavra cruzada? – fiquei olhando pra ele que já havia me pedido um sem número
de coisas no hospital e comecei a resmungar:
─ Uma palavra cruzada?!
Então agora você quer uma palavra cruzada, Edgar? Muito bem. Uma palavra
cruzada. Veja?! – o homem da banca a nos observar e ele pequenino, apenas oito
anos de idade me observando tranquilo, serenamente assentindo com a cabeça
afirmativamente. Então finalizei meu resmungo dizendo:
─ Ora vejam, uma palavra
cruzada?! – Fez-se um breve silêncio e ele voltou-se para mim novamente e disse:
─ Então me dê duas!
AINDA EDGAR
Houve um período em que
fazíamos o Evangelho no Lar justamente aos domingos às 20h. Mas justamente às
16h o Mormaço encerrava a entrada grátis nas suas dependências à beira rio em
Belém do Pará. O estabelecimento acolhia estudantes universitários, aqueles que
estão na fase dos preços módicos e vivem em busca de bagatelas, gratuidades e
coisas do gênero. Nesse domingo Edgar sucumbiu aos prazeres da carne e foi
acompanhar um amigo até o Mormaço com a SINCERA proposta de regressar em tempo
para o encontro semanal que a família desenvolvia há mais de duas décadas. Como
ele não fazia uso de bebida alcoólica o caso era só dançar, ficava muito fácil
dar-lhe crédito nessa proposta de regresso para o referido compromisso, ainda
porque ele adora essa reunião familiar. Contudo, não foi o que aconteceu. Até a
hora de irmos nos recolher ele ainda não havia chegado. A coisa tinha ficado
sedutora MESMO! No dia seguinte Edgar mantem-se no quarto por longo tempo
esperando que todos saíssem para que ele pudesse colocar a cara “sem vergonha”
fora. Estava constrangido e, lá pelas tantas da manhã, quando resolve sair de
seus aposentos, eis que a mãe simultaneamente sai do seu quarto como numa cena
de novela muito bem ensaiada. Edgar com a cara mais safada do mundo franze a
testa como que querendo se desculpar. Um silencio invade o ambiente. Olham-se e a mãe exclama:
─ Ah Edgar! Ah meu filho!
Eu não quero nem falar... – e ele se sai com essa:
─ Mulheeeeer, Deus está
em todo lugar!
A DESCOBERTA
Vez por
outra íamos prestigiar o pequeno restaurante que Conceição, uma amiga, havia
aberto. Comida caseira, bom papo... Enfim.
A família de
Conceição era muito envolvida com música. O filho mais velho tinha um conjunto,
cantava e tocava alguns instrumentos. O marido havia gravado algumas
composições, isso tudo deixava a casa sempre muito movimentada. Era um lugar
para alegrias.
Rita de
Cássia, a primeira neta, viera aumentar essa felicidade muito em função da
dinâmica familiar. A menina era muito cheia de vida, esperta que só ela e,
apesar dos muitos afazeres de todos, as primeiras atenções eram sempre para a
criatura.
Cheguei ao
pequeno estabelecimento, escolhi a mesa, acomodei-me e não sei como nem de
onde, Rita de Cássia surgiu mais que de pressa, sentou-se na cadeira ao meu
lado, olhou-me muito cordialmente e sorriu um sorriso enigmático. Havia algo no
ar!
Correspondi
à gentileza e pus-me a observar.
Por força da
educação tive que dividir minha refeição com ela e, ainda sendo lembrada
constantemente, que no meu prato havia mais comida. Considerações essas que nós,
civilizados, precisamos tirar por menos, quando a interação se dá, com alguém
desse quilate. Assim, o almoço aconteceu sem maiores intervenções. Contudo,
dava para perceber que Conceição e Rita de Cássia trocavam sinistros olhares e,
claro, como sou uma simples mortal, a curiosidade foi tomando conta de meu ser.
No momento oportuno perguntei a Conceição se estava tudo bem e ela me
respondeu:
— É que ela
agora é entrevistadora! – exclama Conceição - Ninguém pode encostar aqui para
uma refeição que Rita de Cássia quer saber. O problema é que a sujeita não
poupa ninguém. Vou acabar sendo presa.
A razão da
entrevista era a perplexidade de Rita de Cássia diante daquela descoberta, daí
a razão de tão imprescindível pergunta.
Menos de
três anos tinha Rita de Cássia quando sua avó, assoberbada de tarefas,
colocou-a num banheiro com um sabonete para que ela desse início ao seu banho.
Vez por outra a avó passava um comando:
— Rita de
Cássia... Lave as orelhas; lave os braços; lave o bumbum. E por aí foi. Pouco
tempo depois, Conceição volta ao banheiro para finalizar o banho e Rita de
Cássia com os olhos muito, muito arregalados apontando para as nádegas pergunta:
—Vovó, tu
tem buraco?
quinta-feira, 7 de agosto de 2014
Minha irmã está de férias
em minha residência no Recife. Ela é uma pessoa naturalmente muito formal,
sempre foi assim desde tenra idade. Carlos adora inquietá-la. Ele está no
banheiro com a porta aberta e em frente ao espelho falando consigo. Quando ela
passa ele afirma diante do espelho:
— De fato eu estou muito
lindo mesmo – com a intenção de provocá-la no que ela olha-o de soslaio e
retruca:
— É. Uma mentira repetida muitas vezes, acaba por se tornar realidade!
sábado, 2 de agosto de 2014
A REVANCHE
Um dia Ori, irmão do Carlos, foi visitar-nos.
Conversavam os dois na sala animadamente quando, por alguma razão, Carlos
solicitou algo ao Edgar, então uma criança de quatro anos. Edgar não considerou e tampouco tomou
conhecimento da solicitação. Em seguida foi a vez de Ana Luísa, na época com
apenas cinco anos, que da mesma maneira reagiu. Minutos depois, ao passar pela
sala, Carlos pediu-me algo e eu disse-lhe que esperasse, pois mais tarde eu o
atenderia. Ori então olhou para o irmão
e aconselhou-o:
— Mano, compra um cachorro! — no que o
Carlos olhando o mano com uma cara de quem diz “espera a tua vez” respondeu:
— Já tenho um. Ele também não me atende!
Os anos passaram-se. Ori casou-se e
depois de longo tempo nasceu a Jéssica sua primeira filha.
Dona Nair, mãe de onze filhos, entre os
quais figuram Carlos e Ori, estava comemorando setenta e três anos de
existência, e por tal acontecimento a família toda se reunira. Era uma festa,
como é sempre uma festa o ajuntamento de tanta gente da mesma família.
As noras nesse dia (e somos seis)
reuniram-se num canto do terreiro num animado papo. Há muito não nos encontrávamos
assim.
Nesse tempo, Jéssica era o único bebê da
família e dormia no quarto da avó Nair quando o pai, Ori, aproximou-se do grupo
feminino que conversava animadamente e, interrompendo-nos, exclamou:
— Rosângela minha filha, o bebê acordou!
— e Rosângela, uma verdadeira Dama, mãe da Jéssica, como tal “pediu”:
— Vá lá meu filho, veja se está tudo bem,
por favor! — e o Ori foi. Ao voltar, interrompeu-nos novamente:
— Ela está molhada!
— Meu bem, troque a fraldinha dela! —
ele foi trocar e quando voltou avisou:
— Acho que ela agora está com fome,
querida!
— A mamadeira está pronta meu amor; está
dentro da sacola, é só dar para ela!
Carlos, que observava atentamente desde
o início essa peleja, seguiu o irmão e encontrou-o no quarto já com o bebê no
colo. Bateu-lhe no ombro amigável e cinicamente. Era a hora da revanche, no
entanto Ori se adiantou e exclamou:
— Já comprei um cachorro também mano, o
nome dele é Sadam, mas ele igualmente não me atende!
Carlos riu-se a não mais poder enquanto
Ori dava mingau para o seu bebê.
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