A REVANCHE
Um dia Ori, irmão do Carlos, foi visitar-nos.
Conversavam os dois na sala animadamente quando, por alguma razão, Carlos
solicitou algo ao Edgar, então uma criança de quatro anos. Edgar não considerou e tampouco tomou
conhecimento da solicitação. Em seguida foi a vez de Ana Luísa, na época com
apenas cinco anos, que da mesma maneira reagiu. Minutos depois, ao passar pela
sala, Carlos pediu-me algo e eu disse-lhe que esperasse, pois mais tarde eu o
atenderia. Ori então olhou para o irmão
e aconselhou-o:
— Mano, compra um cachorro! — no que o
Carlos olhando o mano com uma cara de quem diz “espera a tua vez” respondeu:
— Já tenho um. Ele também não me atende!
Os anos passaram-se. Ori casou-se e
depois de longo tempo nasceu a Jéssica sua primeira filha.
Dona Nair, mãe de onze filhos, entre os
quais figuram Carlos e Ori, estava comemorando setenta e três anos de
existência, e por tal acontecimento a família toda se reunira. Era uma festa,
como é sempre uma festa o ajuntamento de tanta gente da mesma família.
As noras nesse dia (e somos seis)
reuniram-se num canto do terreiro num animado papo. Há muito não nos encontrávamos
assim.
Nesse tempo, Jéssica era o único bebê da
família e dormia no quarto da avó Nair quando o pai, Ori, aproximou-se do grupo
feminino que conversava animadamente e, interrompendo-nos, exclamou:
— Rosângela minha filha, o bebê acordou!
— e Rosângela, uma verdadeira Dama, mãe da Jéssica, como tal “pediu”:
— Vá lá meu filho, veja se está tudo bem,
por favor! — e o Ori foi. Ao voltar, interrompeu-nos novamente:
— Ela está molhada!
— Meu bem, troque a fraldinha dela! —
ele foi trocar e quando voltou avisou:
— Acho que ela agora está com fome,
querida!
— A mamadeira está pronta meu amor; está
dentro da sacola, é só dar para ela!
Carlos, que observava atentamente desde
o início essa peleja, seguiu o irmão e encontrou-o no quarto já com o bebê no
colo. Bateu-lhe no ombro amigável e cinicamente. Era a hora da revanche, no
entanto Ori se adiantou e exclamou:
— Já comprei um cachorro também mano, o
nome dele é Sadam, mas ele igualmente não me atende!
Carlos riu-se a não mais poder enquanto
Ori dava mingau para o seu bebê.
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