sábado, 2 de agosto de 2014

A REVANCHE
        Um dia Ori, irmão do Carlos, foi visitar-nos. Conversavam os dois na sala animadamente quando, por alguma razão, Carlos solicitou algo ao Edgar, então uma criança de quatro anos.  Edgar não considerou e tampouco tomou conhecimento da solicitação. Em seguida foi a vez de Ana Luísa, na época com apenas cinco anos, que da mesma maneira reagiu. Minutos depois, ao passar pela sala, Carlos pediu-me algo e eu disse-lhe que esperasse, pois mais tarde eu o atenderia.  Ori então olhou para o irmão e aconselhou-o:
        — Mano, compra um cachorro! — no que o Carlos olhando o mano com uma cara de quem diz “espera a tua vez” respondeu:
        — Já tenho um. Ele também não me atende!
        Os anos passaram-se. Ori casou-se e depois de longo tempo nasceu a Jéssica sua primeira filha.
        Dona Nair, mãe de onze filhos, entre os quais figuram Carlos e Ori, estava comemorando setenta e três anos de existência, e por tal acontecimento a família toda se reunira. Era uma festa, como é sempre uma festa o ajuntamento de tanta gente da mesma família.
        As noras nesse dia (e somos seis) reuniram-se num canto do terreiro num animado papo. Há muito não nos encontrávamos assim.
        Nesse tempo, Jéssica era o único bebê da família e dormia no quarto da avó Nair quando o pai, Ori, aproximou-se do grupo feminino que conversava animadamente e, interrompendo-nos, exclamou:
        — Rosângela minha filha, o bebê acordou! — e Rosângela, uma verdadeira Dama, mãe da Jéssica, como tal “pediu”:
        — Vá lá meu filho, veja se está tudo bem, por favor! — e o Ori foi. Ao voltar, interrompeu-nos novamente:
        — Ela está molhada!
        — Meu bem, troque a fraldinha dela! — ele foi trocar e quando voltou avisou:
        — Acho que ela agora está com fome, querida!
        — A mamadeira está pronta meu amor; está dentro da sacola, é só dar para ela!
        Carlos, que observava atentamente desde o início essa peleja, seguiu o irmão e encontrou-o no quarto já com o bebê no colo. Bateu-lhe no ombro amigável e cinicamente. Era a hora da revanche, no entanto Ori se adiantou e exclamou:
        — Já comprei um cachorro também mano, o nome dele é Sadam, mas ele igualmente não me atende!
        Carlos riu-se a não mais poder enquanto Ori dava mingau para o seu bebê.   


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