O TROCO
Em
frente do prédio no qual morávamos, Edgar chamava-me vigorosamente sem que eu o
escutasse, certamente havia esquecido alguma coisa e ele me pediria que jogasse
pela janela como era comum a todos os membros da família ao saírem do
apartamento para alguma tarefa externa. Por mais que eu avisasse para que se
organizassem no intuito de não esqueceram chaves, documentos e os etc... Sempre
ficava alguma coisa por levar. Sem êxito, posto que eu não me encontrava em casa,
ele se viu obrigado a subir os seis lances de escada para pegar o que havia
esquecido, e ao abrir a porta da sala, depara-se com Carlos muito bem acomodado
no sofá assistindo televisão.
― O senhor
não me escutou chamando a mamãe?! Chamando a mamãe?! Chamando mamãe?!
― Escutei!
Responde Carlos tranquilamente.
― E então
por que não me atendeu?
― Porque
não sou mãe. Eu sou pai!
Pasmo com
a resposta, Edgar resolveu sua questão e soltando “fogo pelas ventas”, saiu.
Muitos
meses se passaram. Numa certa tarde Carlos põe-se a chamar-me na frente do dito
prédio de apartamentos.
― Julinha?!
Julinha?! Minha mulher?! Minha mulher?! E como eu não estivesse em casa, ele se
viu obrigado a escalar os seis árduos lances de escada para pegar o que havia
esquecido. Eeee... ao ingressar na sala, depara-se com Edgar refestelado no
sofá assistindo tv. Então Carlos dirige-se ao filho interpondo-se entre Edgar e
a televisão e pergunta:
― Tive que
subir essa escadaria toda e você aqui na sala?! Você não me ouviu chamar
repetidas vezes? No que Edgar tranquilamente respondeu:
― Ouvi! Mas
eu sou teu filho, não sou tua mulher!