A DESCOBERTA
Vez por
outra íamos prestigiar o pequeno restaurante que Conceição, uma amiga, havia
aberto. Comida caseira, bom papo... Enfim.
A família de
Conceição era muito envolvida com música. O filho mais velho tinha um conjunto,
cantava e tocava alguns instrumentos. O marido havia gravado algumas
composições, isso tudo deixava a casa sempre muito movimentada. Era um lugar
para alegrias.
Rita de
Cássia, a primeira neta, viera aumentar essa felicidade muito em função da
dinâmica familiar. A menina era muito cheia de vida, esperta que só ela e,
apesar dos muitos afazeres de todos, as primeiras atenções eram sempre para a
criatura.
Cheguei ao
pequeno estabelecimento, escolhi a mesa, acomodei-me e não sei como nem de
onde, Rita de Cássia surgiu mais que de pressa, sentou-se na cadeira ao meu
lado, olhou-me muito cordialmente e sorriu um sorriso enigmático. Havia algo no
ar!
Correspondi
à gentileza e pus-me a observar.
Por força da
educação tive que dividir minha refeição com ela e, ainda sendo lembrada
constantemente, que no meu prato havia mais comida. Considerações essas que nós,
civilizados, precisamos tirar por menos, quando a interação se dá, com alguém
desse quilate. Assim, o almoço aconteceu sem maiores intervenções. Contudo,
dava para perceber que Conceição e Rita de Cássia trocavam sinistros olhares e,
claro, como sou uma simples mortal, a curiosidade foi tomando conta de meu ser.
No momento oportuno perguntei a Conceição se estava tudo bem e ela me
respondeu:
— É que ela
agora é entrevistadora! – exclama Conceição - Ninguém pode encostar aqui para
uma refeição que Rita de Cássia quer saber. O problema é que a sujeita não
poupa ninguém. Vou acabar sendo presa.
A razão da
entrevista era a perplexidade de Rita de Cássia diante daquela descoberta, daí
a razão de tão imprescindível pergunta.
Menos de
três anos tinha Rita de Cássia quando sua avó, assoberbada de tarefas,
colocou-a num banheiro com um sabonete para que ela desse início ao seu banho.
Vez por outra a avó passava um comando:
— Rita de
Cássia... Lave as orelhas; lave os braços; lave o bumbum. E por aí foi. Pouco
tempo depois, Conceição volta ao banheiro para finalizar o banho e Rita de
Cássia com os olhos muito, muito arregalados apontando para as nádegas pergunta:
—Vovó, tu
tem buraco?
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