RUMO À PRESIDÊNCIA!
Crescemos
num Município do Pará cujo acesso era feito só através de barco, àquela estação
de nossa infância.
Acará
era praticamente uma aldeia naquele modelo dos tempos do Brasil colônia em que
a igreja católica era construída de modo a ter controle do povoado todo. Assim,
todo o resto do município crescia em torno da igreja. Localizado às margens do
rio que emprestava seu nome para o município, Acará ficava a mais de duzentos
quilômetros da capital paraense.
Nos
dias de então, não havia na cidadezinha grandes recursos quer fossem na área de
saúde, de educação ou de transporte.
Meus
pais, à época, eram funcionários do DER (Departamento de Estradas de Rodagem)
órgão do Estado. Papai era Residente que configurava um cargo de chefia e mamãe,
Enfermeira.
O
município tinha uma caçamba do DER, um caminhão da prefeitura e o Jippe da
Igreja que contava com um pároco de nacionalidade italiana muito trabalhador e
querido da população: Padre Alberto.
O
DER juntamente com a prefeitura municipal eram os únicos órgãos empregadores da cidade e mamãe, que era
funcionária do DER, acabava por atender o município inteiro nas questões de
saúde que surgiam e lá ocorria de tudo. Dessa forma, meus pais tornaram-se
parte das autoridades constituídas na cidade que eram o padre, o prefeito, o
delegado, seu Chico da DER (como os caboclos o chamavam) e dona Lindinaura, a
enfermeira. Por esse motivo era comum ver nossa casa sempre muito movimentada.
Dificilmente sentávamos à mesa sozinhos, principalmente aos domingos, quando
papai mandava ou ia pessoalmente à colônia buscar o caboclo que vinha à cidade
para trocar mercadoria, casar, batizar ou cuidar da saúde. Ao contrário da
dinâmica da cidade grande, domingo no município de Acará era dia de muito, muito
trabalho mesmo.
Nesse
ambiente crescemos aprendendo desde aí a considerar e acolher com muita
educação doméstica, principalmente, todo ser humano independente de sexo, credo
ou cor. Era a nossa realidade: atender à porta, servir água e localizar o papai
onde quer que ele estivesse no município.
Os
anos passaram. Viemos para a capital estudar.
Em
Belém constituímos família, vieram os filhos nossos, os netos do Chico da DER e
da enfermeira Lindinaura.
Era
comum visitar a cidade de Acará. No período dos estudos, fazíamos isso todo
final de semana.
O
município pouco mudava e, essa dinâmica de meus pais, parecia nunca ter fim.
Continuava aquela população, agora muito maior, recorrendo a eles para diversas
soluções.
Certa
feita, Inês, a segunda filha dos cinco rebentos do casal, foi passar um fim de
semana com a sua primogênita Juliana. A criatura contava uns cinco anos, cheia
de vida, linda que só ela, muito engraçada e atenta a tudo. Juliana, vez por
outra, se saía com cada uma e, por conta de suas conclusões, nos colocava em
situações embaraçosas.
Estava
a mana Inês descansando depois do almoço, se aninhando para aquela tradicional
sesta paraense, quando bateram à porta. Acará não tinha mendigo, nem ladrão e a
cadeia era praticamente um enfeite. Pois bem, Inês pede à Juliana que vá
atender a porta e ela, cheia de energia, fagueira, levanta-se e saltitante vai.
—
Escuta pequena, o seu Chico está?
—
Não senhor, o prefeito saiu!— informa Juliana com propriedade e segurança. A
mãe pula da cama vai ao encontro dela e explica:
—
Minha filha, o vovô não é o prefeito da cidade, entendeu?
—
Não!
—
Mas ele não é Juliana, tá bom?
—
Ah! Ele não é o prefeito?
—
Isso mesmo! O vovô não é o prefeito!
—
Tá bom! — e tornam à cama para merecido repouso. Quando já estão agasalhadas,
novamente batem à porta e Inês, mais uma vez requere auxílio da nossa menina e
Juliana faceira vai atender à porta.
—
Seu Chico está?
—
Não senhor, o Governador saiu!
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