quinta-feira, 10 de julho de 2014

QUE VACAS?!

                      
         O gigante branco havia invadido a geladeira.     
       Há tempos não nos visitava. Assim, os meninos andavam meio cabisbaixos, em silêncio por vezes, coisa difícil naquela família. Mas aqui e acolá, se tirava uma brincadeira um com o outro para quebrar o gelo. Nessas ocasiões de baixa no “bolso de valores” da casa, costumavam ficar mais serenos e quietos, talvez para não perturbar o pai. Cada um, e eram cinco (pai, mãe e três filhos), tinha uma reação diante das situações difíceis e que envolviam dinheiro.
Ana Júlia, a primeira filha, achava que tudo iria passar logo; estavam só sendo testados na sua fé e na sua capacidade de serem solidários e amigos. Edgar não emitia opinião, contudo ficava muito quieto e parceiro nesses difíceis períodos. Agora, Ana Luísa era pra ferrar. Não tinha dó e, sempre que possível, cobrava da mãe por que havia se casado com um homem tão pobre. Uma mulher linda como ela, desposar um pobre? E por aí caminhavam as conversas propostas por Ana Luísa, insatisfeita por ser pobre segundo ela quase na linha da miséria, apesar do IBGE contrariar com seus dados essa constatação “Luisiana”.
         O pai sempre disposto às brincadeiras aceitava e permitia tudo que fosse bem educado e não agressivo. Na hora das refeições e reuniões familiares era quando mais afloravam as gozações pela situação financeira que se experiênciava naquele momento. Uma brincadeira muito comum era lembrar que o padre nas bençãos matrimoniais havia dito: — Na riqueza e na pobreza! E Edgar sempre completava dizendo:
— Acontece que estamos na pobreza, na pobreza, na pobreza... – ríamos muito.
         Evitavam pedir coisas supérfluas e desnecessárias. Tinham certeza de dias melhores e procuravam nesses períodos ser alegres. Era melhor. A mãe acreditava que ser pessimista nessas horas não levava a nada, não ajudava de maneira nenhuma. Então: alegria! Alegria!
Evitavam perguntas constrangedoras também, principalmente, por que naquele tempo nenhum deles colaborava com o orçamento doméstico.
— Ainda! – fazia questão de  lembrar, sempre, Ana Luísa.
Em uma manhã de sábado, Ana Júlia  encontra o pai na cozinha debruçado sobre o que ele costumava chamar de “dever de casa” que nada mas era do que as contas do orçamento doméstico. Querendo ser engraçada a filha arrisca uma brincadeira e diz:
— Tempos de vacas magras, hein?!
— Vacas? Que vacas?         


                                    

4 comentários:

  1. Haviam sim vacas... elas estavam se escondendo! : )

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  2. Tragicômico estão as postagens seu Amaro. Eita servicinho difícil!

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  3. E você só fala isso agora Ana?! Quanto seu pai lhe pagou pelo cruel silencio?

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