A MODELAGEM
Ana Luísa
cresceu muito livre, chancelada pelo pai, numa liberdade educada e então, equilibrada.
Com isso, era uma criança tranquila e segura nas suas atitudes. Brincalhona e
espirituosa desde cedo, encarava a vida com alegria e de frente.
Da fase de
criança para a adolescência, passou por todas aquelas difíceis transformações
que o crescimento nos impõe. Assim sendo, usou bota ortopédica, óculos, fez
fonoaudióloga para corrigir a arcada dentária e aprender a falar corretamente,
aeróbica para desenvolver a coordenação motora que era comprometida a moda de “slow
motion”, natação para desenvolver a musculatura, teatro para
aprender a ser disciplinada e organizada com suas coisas. Enfim, uma bateria de
fazeres e afazeres que se fizeram necessários para a lapidação da pessoa que é
nos dias de agora, Ana Luísa. Tudo isso foi orientado por uma psicopedagoga.
Nesse período
todo de muitos horários e compromissos por conta do melhoramento e
condicionamento físico, o que mais nos ajudava como pais, era o fato de nossa
Luísa com tantos ajustamentos se achar, se ver e sentir A BELA. Na primeira
fase de sua adolescência, ninguém era mais do que ela em nenhum quesito, e os mais
considerados eram: beleza e inteligência, sem contar outros de menor
importância. No entanto, Luísa, não era exatamente o que se julgava ser.
Por esta razão,
o pai muito cauteloso e ocupado em não desencadear aborrecimentos desnecessários,
para tão difícil período da vida (a adolescência), encaminha-se para uma
academia de ginástica que havia na vila militar onde residiam na época, em
busca de contratar os serviços do professor de educação física. Adilson, o
professor de musculação, bem humorado e solicito recebe Carlos que explica ao
profissional:
— Vim encomendar
uma cintura.
— Pois não! Diga
o diâmetro e estabeleça as medidas que eu moldo. Diga também pra quando quer o
serviço!
— Pra ontem meu
amigo!
— Muito bem!
— Detalhe
significativo: a criatura que vou lhe enviar, sente-se a mais bela entre as
deusas do planeta, por favor, não me estrague o empenho.
Serviço
contratado, despedidas feitas, Carlos toma o rumo de casa e lá chegando
comunica a Luísa que ela está contemplada com as tão almejadas aulas de
musculação na academia. Foi uma felicidade. Corremos à comprar umas malhas
adequadas para a ocasião. Um verdadeiro martírio a escolha posto que haviam modelos
belíssimos e um mundo de fantasias “adolescênticas”, esperando para serem
transformadas em realidade. Providenciamos também, uma depilação, descoloração
de pelos e tudo o mais que foi ao ver de Luísa, necessário para a grande estreia.
Numa bela e ensolarada
tarde de verão, Luísa, sentindo-se pronta, caminha feliz para a academia do
professor Adilson, e lá chegando, apresenta ao profissional, a foto de uma
belíssima modelo, e autoritária exclama:
¾
Olha bem... É pra fazer ficar desse jeito entendeu!? — o
professor então já conhecedor da personalidade da nova aluna, responde
imperativo:
¾
Olha aqui, eu não sou Deus não, nem macumbeiro viu!?
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