domingo, 22 de março de 2015



A MODELAGEM
Ana Luísa cresceu muito livre, chancelada pelo pai, numa liberdade educada e então, equilibrada. Com isso, era uma criança tranquila e segura nas suas atitudes. Brincalhona e espirituosa desde cedo, encarava a vida com alegria e de frente.
Da fase de criança para a adolescência, passou por todas aquelas difíceis transformações que o crescimento nos impõe. Assim sendo, usou bota ortopédica, óculos, fez fonoaudióloga para corrigir a arcada dentária e aprender a falar corretamente, aeróbica para desenvolver a coordenação motora que era comprometida a moda de “slow motion”, natação para desenvolver a musculatura, teatro para aprender a ser disciplinada e organizada com suas coisas. Enfim, uma bateria de fazeres e afazeres que se fizeram necessários para a lapidação da pessoa que é nos dias de agora, Ana Luísa. Tudo isso foi orientado por uma psicopedagoga.
Nesse período todo de muitos horários e compromissos por conta do melhoramento e condicionamento físico, o que mais nos ajudava como pais, era o fato de nossa Luísa com tantos ajustamentos se achar, se ver e sentir A BELA. Na primeira fase de sua adolescência, ninguém era mais do que ela em nenhum quesito, e os mais considerados eram: beleza e inteligência, sem contar outros de menor importância. No entanto, Luísa, não era exatamente o que se julgava ser.
Por esta razão, o pai muito cauteloso e ocupado em não desencadear aborrecimentos desnecessários, para tão difícil período da vida (a adolescência), encaminha-se para uma academia de ginástica que havia na vila militar onde residiam na época, em busca de contratar os serviços do professor de educação física. Adilson, o professor de musculação, bem humorado e solicito recebe Carlos que explica ao profissional:
— Vim encomendar uma cintura.
— Pois não! Diga o diâmetro e estabeleça as medidas que eu moldo. Diga também pra quando quer o serviço!
— Pra ontem meu amigo!
— Muito bem!
— Detalhe significativo: a criatura que vou lhe enviar, sente-se a mais bela entre as deusas do planeta, por favor, não me estrague o empenho.
Serviço contratado, despedidas feitas, Carlos toma o rumo de casa e lá chegando comunica a Luísa que ela está contemplada com as tão almejadas aulas de musculação na academia. Foi uma felicidade. Corremos à comprar umas malhas adequadas para a ocasião. Um verdadeiro martírio a escolha posto que haviam modelos belíssimos e um mundo de fantasias “adolescênticas”, esperando para serem transformadas em realidade. Providenciamos também, uma depilação, descoloração de pelos e tudo o mais que foi ao ver de Luísa, necessário para a grande estreia.
Numa bela e ensolarada tarde de verão, Luísa, sentindo-se pronta, caminha feliz para a academia do professor Adilson, e lá chegando, apresenta ao profissional, a foto de uma belíssima modelo, e autoritária exclama:
¾   Olha bem... É pra fazer ficar desse jeito entendeu!? — o professor então já conhecedor da personalidade da nova aluna, responde imperativo:
¾   Olha aqui, eu não sou Deus não, nem macumbeiro viu!?            



Nenhum comentário:

Postar um comentário