quinta-feira, 24 de julho de 2014


“Alô, Alô Interior!  Alô, Alô Interior!
 Carta da Cidade do Recife-PE
 Para o Sr. Didildo no Município de Abaetetuba-PA
da Tua Mana Júlia que Aguarda Breve Resposta”.

Num canto extremo, do formato retangular que configurava a cozinha,  que abria para o enorme quintal pelo qual, lá no fundo, se ia encontrar a floresta, ficava o jirau.
Uma banqueta servia de trampolim ou pedestal para Odila que nele, no jirau, vinha fazer tantas tarefas quantas lhe coubesse.
Jirau... Objeto de muitos fazeres numa casa de interior.
Bem ao lado seu, um fogão a lenha, de duas bocas!  Logo cedo lhe tinha a chama acessa para ir se “desacender” só às tantas da noite. Repousava permanentemente ao lado desse fogão incansável, uma saca de carvão sempre cheia. Não me lembro de vê-la vazia.       Comida cheirosa, panelas virtuosas, mãos zelosas que as punham a brilhar depois de horas a queimarem na lenha no ofício do preparo dos alimentos dos humanos, comilões sempre. Quando da chama saíam essas vasilhas, estavam inteiramente irreconhecíveis de seus alumínios lustrosos e espelhados.
A saca de carvão também alimentava o ferro de passar roupas, que costumava trabalhar muito no período da tarde, sobre uma enorme mesa igualmente retangular, posta no cento desse cômodo que era nossa cozinha. Tão imenso era esse compartimento da casa que possuía duas portas: uma nos fundos e outra na lateral, mais uma enorme janela.
Tempos de muita luz. Muito sol. Muita claridade. Tanto que não me lembro de chuvas. Chuvas sempre fecham a claridade das manhãs e não trago essas lembranças tão intensas eram as luzes dos dias de nossa infância acaraense.
Do outro lado da cozinha, fazendo um contraponto com as eras (ERA DO FOGO A LENHA E A ERA DO FOGÃO A GÁS), um fogão butano e uma geladeira a querosene faziam frente ao jirau e ao fogão à lenha. Contudo, bem próximo desses, figurava um belíssimo e frequentadíssimo pote. Água doce. De poço. Sempre fresca. Abundante. Saudades muitas!
Te lembras?
Não me esqueci. Então, queria te contar.
Abraços da tua mana,

Júlia.


Recife, 24 de julho de 2014.

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